segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

NEUROCIÊNCIAS - O palco da mente


O verdadeiro nó do mundo interior permanece ainda como um dos maiores mistérios e deixa a pergunta: o que é a consciência humana?

A MENTE É TUDO?
Após esta breve passagem pelo “submundo”, que tal o “sobremundo”? As coisas que existem, mas não estão dentro do domínio da nossa consciência. Quantas galáxias e planetas estão ainda por ser descobertos? As unidades da matéria que não podemos enxergar e que podem um dia ser ainda mais tolhidas cientificamente além dos átomos e quarks. É inevitável tocar na questão filosófica sobre o que realmente é.

Muitos pensadores consideram que a realidade não existe fora da mente. Estaríamos presos em nossa mente. Tudo é percebido e traduzido em conceitos cerebrais. Não temos acesso direto e objetivo ao mundo real. Sob outra perspectiva, concebe-se também que este mundo real existe independente de mentes humanas, sendo talvez muito maior ou menor do que a nossa consciência é capaz de perceber; a ciência, mesmo com suas limitações, talvez proporcionasse a melhor abordagem para entender e expandir o conhecimento humano deste mundo real.

Finalmente, o que é a consciência? Estar consciente é estar ciente da percepção, é estar autociente, “estar ciente de estar ciente” e ser capaz de refletir nossas experiências pessoais.

É essencial realizar duas distinções importantes em relação à denominação consciência. A primeira refere-se ao nível de consciência, isto é, estar alerta, sonolento, em estupor ou coma, regulado pelo sistema reticular ascendente no tronco cerebral. A segunda é, por exemplo, o meu estar consciente de ver o verde destas folhas não longe de mim. É o conteúdo específico de uma experiência consciente. A primeira permite que a segunda ocorra.

Mais precisamente, existe algo de muito especial a cada único momento – o agora, o estado atual da consciência. O meu “agora” que me faz olhar e meu cérebro perceber o verde das folhas das árvores do cemitério judaico em Berlim faz-me indagar sobre a natureza da consciência e digitar no meu laptop. Estes múltiplos processamentos cognitivos são unificados a uma experiência única e coerente, e que pode, por exemplo, ser relembrada posteriormente. Os mecanismos pelos quais isto é possível são ainda um insondável e obscuro mistério que a neurociência ambiciosamente procura revelar.

Ana Carolina Guedes Pereira é médica e pesquisadora em Neurociência nos EUA. Autora de uma coleção de ensaios sobre Neurociência Em torno da mente, Editora Perspectiva, a ser publicada nos próximos meses. Contato: ap2387@columbia.edu.

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